Conectando filmes aos espectadores do streaming
Por Renan Martins Frade
Tinha tudo para ser mais um dia normal, até que recebi uma mensagem pelo Facebook. “Vamos conversar”, escreveu Fabio Lima, CEO e fundador da Sofa Digital. Eu não sabia, mas minha carreira estava prestes a mudar para sempre – de novo.
A Sofa é o que chamamos de agregadora de conteúdos em vídeo sob demanda (VOD).
Falando em português claro, é uma companhia que distribui filmes para plataformas de streaming – cuidando desde a parte burocrática, como a negociação dos direitos de distribuição, até o lado técnico e estratégico, garantindo que essas produções cheguem ao público certo. É uma media tech, ou seja, uma empresa de mídia nascida no ambiente digital, da mesma forma que o Nubank é uma fintech.

Nos anos seguintes, a Sofa Digital se fundiu à Synapse Distribution, que passou a ser uma marca do grupo, e também lançou os projetos dos canais Adrenalina Pura e Adrenalina Freezone.
Mas estou me adiantando. Vamos voltar àquela tarde de 2015.
Lima entrou em contato comigo porque um dos desafios da empresa era, veja só, conteúdo – tanto na curadoria quanto no marketing. Eles precisavam de alguém com conhecimento da indústria do entretenimento, experiência com streaming e criação digital. Eu, que havia passado pela Netflix e era editor do JUDAO.com.br, era a pessoa ideal.
Divulgando os filmes da Sofa Digital
Levou oito meses até as constelações se alinharem e eu finalmente entrar na Sofa. Assumi a função de Head of Curation e logo entendi nosso maior desafio.
Por ser uma das poucas agregadoras habilitadas a distribuir conteúdos nas principais plataformas da América Latina (como Apple TV, Netflix, Claro tv+ e Google Play), além de ter uma ótima relação com os distribuidores, a Sofa tinha um calendário intenso de lançamentos, chegando a até dez estreias por semana, em diversos territórios. A maioria eram títulos independentes, muitos com destaque em festivais e premiações, mas sem o apelo comercial de um “Vingadores” ou “Homem-Aranha”. Nosso papel era trazer visibilidade – tanto para o público quanto para a imprensa e para as curadorias dos streamings.
Meu trabalho começou com o gerenciamento das páginas no Facebook – uma voltada para o Brasil, outra para a América Latina. Isso me aprofundou na produção e gestão de conteúdo para redes sociais, além de campanhas de Facebook Ads. Com orçamentos enxutos, aprendi a segmentar públicos com perfeição – aprendizado em que contei com o auxílio do atendimento da própria Meta
Também organizamos pré-estreias e, em alguns casos, atuei como assessor de imprensa para divulgações pontuais.

Deu até para batizar um título localizado: “Code 8: Renegados”, que depois ganhou uma continuação exclusiva da Netflix. O nome em português ajudou a contextualizar melhor o enredo da história, além de fazer uma conexão subliminar entre o longa-metragem e o seu co-protagonista, Stephen Amell, que também era o heroi principal da série “Arrow” – que teve um time justamente chamado Renegados (Outsiders, em português).
Entra o Filmelier
Portfólio principal: Filmelier
Apesar dos bons resultados, sabíamos que ainda faltava algo.
Por isso, outra missão minha foi desenvolver uma plataforma para ajudar o espectador a encontrar algo para assistir. Com o streaming, o entretenimento se fragmentou, tornando essa busca mais difícil. Nunca tivemos tantas opções disponíveis, sem as amarras da TV linear, mas essa abundância acaba nos paralisando – e, no fim, seguimos assistindo sempre às mesmas coisas. O famoso paradoxo da escolha.
Meu projeto era a peça que faltava na Sofa Digital, colocando de vez o “2C” em prática. A ideia era criar uma ponte de contato mais contínua com o público, indo além do modelo de divulgação de cada novo lançamento. Seria um veículo de comunicação com credibilidade na curadoria, oferecendo informações e, acima de tudo, sendo agnóstico – cobrindo títulos de todos os agregadores e distribuidores, em todas as plataformas. Afinal, o potencial de parcerias e anúncios publicitários ia muito além da própria empresa.
Assim nasceu, em 6 de março de 2017, o Filmelier – ou Filmmelier, como ainda chamávamos. No começo, era um projeto tímido, restrito ao Brasil, comigo sozinho na produção de conteúdo e um time de desenvolvimento terceirizado.
Resultados
As ações de conteúdo e marketing digital no Facebook ampliaram nossa base de seguidores de aproximadamente 50 mil para mais de 120 mil em poucos meses. Com isso, impulsionamos os lançamentos, aumentando as vendas na plataforma e criando um verdadeiro círculo virtuoso. Os títulos da Sofa viraram presença constante no top 10 dos mais vendidos do TVOD (vídeo sob demanda transacional, em português – o de aluguel e compra).

Um dos destaques desse período foi a pré-estreia de “O Que Fazemos nas Sombras”, organizada em parceria com o time de marketing da Sofa. O filme não chegou a ser exibido nos cinemas brasileiros, indo diretamente para o streaming, mas promovemos uma sessão especial na tela grande. A exibição única na Sala Drive-In do Belas-Artes reuniu influenciadores e jornalistas em um evento que lotou a sala e contou com uma experiência gastronômica assinada pelo Grupo Vegas, de Facundo Guerra, além da distribuição de brindes. O sucesso da ação ajudou a impulsionar a estreia da comédia no digital.
Esse trabalho consolidou nossa posição no mercado. Passamos a ser referência para streamings e distribuidores, que nos procuravam para apoiar seus lançamentos – seja por meio de projetos conjuntos, consultorias, campanhas ou até conversas informais. Ao longo dessa trajetória, trabalhamos ao lado de marcas como Sony, Apple, Imagem Filmes, Claro, Califórnia Filmes, Watch Brasil, Vitrine Filmes e diversas outras, de majors a independentes. Até a Disney entrou em contato comigo para tirar algumas dúvidas.
Enquanto isso, o Filmelier cresceu. Expandimos para o México, passamos a cobrir lançamentos de cinema, internalizamos o desenvolvimento da plataforma e saltamos de zero para mais de 6 milhões de acessos mensais. Hoje, esta é uma marca consolidada no mercado audiovisual latino-americano.
Mas essa é outra história. Clique aqui para ler.