Entre todas as minhas jornadas profissionais, a do JUDAO.com.br foi a mais longa: quase 12 anos de trabalho, aprendizado e conquistas. Também foi a que mais me trouxe realizações e abriu portas que eu nem imaginava existir. Ao longo desse tempo, o Judão se consolidou como um dos maiores sites sobre cultura pop da internet brasileira, marcando presença em grandes portais como MTV, Terra, R7 e Vírgula (uma iniciativa da Jovem Pan), entre outros.
Muito do que você lê, vê ou ouve hoje teve sua origem aqui, no trabalho que desenvolvi ao lado de alguns dos pioneiros da internet.
E pensar que tudo começou por acaso.
Em 2005, no último ano da faculdade de Jornalismo, conheci Thiago Borbolla, o Borbs. Nos cruzamos por um motivo corriqueiro: ele namorava uma colega de classe. A amizade surgiu rapidamente e, pouco depois, veio o convite para escrever no site que ele havia criado. Sim, você sabe qual.
Ao lado do Borbs, em um dos eventos do Judão
No início, minha participação foi esporádica. Mas, em 2006, assumi de vez o papel de editor de Livros & HQs – o ponto de partida de uma jornada que transformou a minha carreira.
Transformando o jornalismo
Naquele tempo, o noticiário sobre cultura pop (nerd ou geek, como preferir chamar) ainda estava longe da grande imprensa – e, quando os veículos cobriam o assunto, o conteúdo costumava ser frio, distante e cheio de imprecisões. Criado em 2000, o Judão se diferenciava justamente pelo foco total nesses temas, pelo bom humor e por uma linguagem solta, próxima dos jovens, sem nunca perder o apuro e a exatidão jornalística.
O segmento contava com nomes como Omelete e A-Arca, mas estávamos à frente na inovação, o que nos garantia a liderança em termos de acessos.
Quando comecei, esse era o visual do JUDAO.com.br (crédito: Borbs.net)
Isso nos permitiu antecipar muitos dos movimentos da web que viriam depois. Por exemplo, produzimos nosso primeiro podcast ainda em 2007. Poucos anos depois, já fazíamos lives no YouTube e embarcamos cedo no movimento das redes sociais. Houve muito teste e erro, já que essas estratégias eram totalmente novas.
Também fomos um dos primeiros sites a publicar críticas de filmes e séries (ou resenhas, como preferíamos chamar). Entrevistamos atores, atrizes, diretores e produtores, seja em vídeo ou em texto, adiantando tendências e novidades. Acompanhamos de perto a ascensão da cultura nerd, que passou a dominar o cinema com a invasão dos super-heróis. Escrevi diversas matérias que me dão um grande orgulho.
Quem lia o nosso site acompanhou tudo isso – ou esteve presente pessoalmente, em pré-estreias, painéis e outros eventos que participamos ou realizamos.O destaque foi tanto que o Borbs chegou à posição de VJ da MTV Brasil, enquanto o Judão virou até um especial dentro da programação do canal.
A San Diego Comic-Con
Dentro do nosso escopo de trabalho, a San Diego Comic-Con era (e ainda é) o evento mais importante. A convenção, que começou nos anos 1970, ganhou uma relevância absurda justamente durante a existência do JUDAO.com.br, quando os grandes estúdios de Hollywood passaram a marcar presença de forma definitiva.
Fomos um dos primeiros sites brasileiros a abraçar a SDCC. Participei de diversas coberturas, tanto do Brasil quanto dos EUA. Estive em três Comic-Cons (e em outras duas depois, por Filmelier e UOL), onde pude ver de perto grandes astros, reportar acontecimentos, realizar entrevistas e observar as engrenagens de marketing e divulgação da indústria do entretenimento.
Ao lado de Bob Harras, então editor-chefe da DC Comics e ex-editor-chefe da Marvel, na San Diego Comic-Con de 2012
Estar presente na San Diego Comic-Con é um verdadeiro batismo de fogo para quem quer se especializar nesse tipo de cobertura.
Curiosamente, também vi a CCXP (ou Comic Con Experience, como ainda se chamava na época) nascer no Brasil – trazendo para cá alguns dos fundamentos da SDCC e criando outros. Desde os primeiros anos do evento, estive na São Paulo Expo trazendo muito conteúdo e impressões diretas do pavilhão.
Cobrindo o mercado do entretenimento
Ao longo dos anos, o Judão passou por reposicionamentos. Em meados da década de 2010, percebemos que nossa linguagem havia sido copiada por outros sites e que a competição pela publicação de notícias de hard news se tornou feroz. Foi então que mudamos o rumo, apostando em textos longos e reportagens aprofundadas.
Logo usado na fase final do Judão
Mais uma vez, antecedemos um movimento que a concorrência seguiria depois.
Eu, que há tempos já cobria filmes e séries, percebi que era o momento ideal para fincar de vez mais uma bandeira: o mercado do entretenimento.
Os leitores estavam cada vez mais interessados no que acontecia além da tela. Queriam entender não apenas as escolhas artísticas, mas também as decisões comerciais, o desempenho financeiro dos estúdios e os bastidores da guerra do streaming, que transformava a forma como os conteúdos eram produzidos e distribuídos.
Com uma abordagem acessível, sem os jargões tradicionais do mundo dos negócios, comecei a produzir matérias que destrinchavam o showbiz para um público jovem que queria profundidade, mas de um jeito leve e didático.
Algumas dessas matérias se destacaram, como a reportagem sobre “a batalha das Comic Cons no Brasil”, em que revelei, com exclusividade, a existência da Brasil Comic Con e uma disputa judicial envolvendo a CCXP, os organizadores da San Diego Comic-Con e da New York Comic-Con.
O JUDAO.com.br teve alguns projetos de podcast ao longo dos anos, mas foi só em 2015 que o formato se tornou viável, graças a uma parceria com a Central 3. Eles cederam estúdio e cuidaram da parte técnica, edição e publicação nas plataformas de streaming. Para nós, ficaria toda a produção artística, apresentação, conteúdo, divulgação e tudo mais.
Participei de quase 100 edições do Asterisco, nas quais entrevistei figuras relevantes da cultura pop, como Mônica Sousa (a filha do Mauricio e a “Dona da Rua”), Marimoon, Sidney Gusman, Rafael Bittencourt (guitarrista e co-fundador do Angra), Antonio Tabet, Gregório Duvivier, Leandra Leal, Edmilson Filho, Isabela Boscov, Falcão (o cantor brega, não o jogador de futebol, nem o ex-ala do futsal, muito menos o vocalista d’O Rappa), entre muitos outros.
Junto de Gregório Duvivier e Antonio Tabet (do Porta dos Fundos) e do co-apresentador do Asterisco, Thiago Cardim
Além do formato em áudio, o programa também era transmitido ao vivo no Facebook. Sim, fomos precursores de um formato que Flow, Podpah e outros adotaram anos depois.
Hoje, posso bater no peito e dizer: o JUDAO.com.br caminhou para que muito da internet brasileira pudesse, anos depois, correr. Também foi a minha segunda faculdade no jornalismo, onde aprendi (e, muitas vezes, desenvolvi) muita coisa na prática.
Ah, sim: se você quiser conhecer toda essa história pela perspectiva do Borbs, clique aqui.
Alguns resultados desse trabalho
Selecionar destaques não é fácil – afinal, foram quase 12 anos de trajetória, e alguns conteúdos infelizmente saíram do ar com as mudanças do site e o fim de parcerias.
Ainda assim, você pode conferir a seguir um pouco do que escrevi nesse período.
Porém, um dos resultados mais impactantes não está em números ou links. Foi quando um leitor me marcou em um post no Instagram para mostrar sua mais nova tatuagem: São Sebastião, com o corpo cravado de flechas. Para explicar o desenho, ele citou um trecho do obituário que escrevi para Muhammad Ali – a lenda do boxe que, em uma icônica capa da Esquire, posou na mesma posição do santo, simbolizando sua resistência diante da condenação pública.
Aquela história, a partir do meu relato, o tocou tão profundamente que ele quis carregá-la consigo para sempre, como símbolo do que ele havia superado.
E, para mim, não existe influência maior do que essa: emocionar alguém a ponto de deixar uma marca, não só na memória, mas na pele.
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