O ano era 1998. Confesso que não lembro o dia exato. Eu tinha apenas 13 anos, mas mergulhava com tudo no mundo da internet desde o ano anterior – ainda com suas conexões discadas e lentas, quando demorava séculos para carregar uma pequena imagem. O Google estava começando e portais de busca ainda eram sinômino de um repositório de pequenas sinopses de sites.
Foi quando comecei a mexer em uma ferramenta que os mais novos nunca devem ter ouvido falar: a Geocities. Era a mais popular (e praticamente a única) forma de criar, de graça, um site na internet. Na raça aprendi a mexer com HTML e, em pouco tempo, estava criando meu primeiro site. O nome? ‘The Uncanny Webzine’, uma brincadeira com os X-Men e também com os velhos fanzines, que eram a minha referência para a produção de conteúdo independente.
Eu não sabia, mas já estava decidido que o jornalismo seria a minha profissão no futuro.
Pouco depois, com maior conhecimento de HTML, refiz a página e relancei o site como ‘A-Nexo’. O assunto continuou o mesmo: histórias em quadrinhos.

Porém, o desafio não era programar o site, ou mesmo escrever os textos. A dificuldade era na divulgação. As ferramentas de busca, como já disse, dependiam de sinopses dos sites, que precisavam contar, em poucas palavras, tudo aquilo que era importante para ser encontrado. Havia muita troca de links também, assim como premiacões e redes de páginas com assuntos relacionados. Participar de newsgroups (grupos de e-mails, sendo que o UOL tinha os mais conhecidos aqui no Brasil) ajudava, assim como os canais de IRC.
De resto já havia os grandes portais, como UOL e ZAZ (atualmente conhecido como Terra), além de experimentações de veículos de mídia tradicionais, museus e universidades. Há, claro, todo o debate sobre fake news na web de hoje, mas, naqueles tempos, havia também muitos sites feitos por adolescentes e entusiastas (como o meu), que davam espaço para tudo – até para teorias da conspiração. Correntes de e-mails com “denúncias” já eram comuns: só ver que aquela “acusação” da venda da final da Copa do Mundo da França ter começado por lá e viver até hoje.
“Se vocês soubessem o que aconteceu, ficariam enojados.”
Tirando essas teorias da conspiração e o UOL (para onde, hoje, eu escrevo), pouca coisa sobrou daquela época. Ficou, porém, muito aprendizado. Não considero aquelas minhas produções como um trabalho profissional, afinal era algo amador (no sentido mais básico da expressão, que faz algo por amor). Ainda assim, até hoje agradeço ao pouco de HTML que aprendi naqueles tempos (algo que ajudou a criar este site!), além de certas táticas de divulgação de “guerrilha”. Ficou, também, a adaptabilidade às mudanças e a percepção de que precisamos ficar antenados com as próximas tendências, caso contrários podemos ficar no passado.
Hoje, jornais e revistas – aqueles mesmos que apostavam bastante na internet em 1998 – lutam para sobreviver, a política é feita nas redes sociais e gente com bala na agulha pode influenciar milhões. Por outro lado, nunca se produziu tanto conteúdo (de qualidade ou não, de forma independente ou não) na história da humanidade quanto produzimos agora. Como poderia imaginar isso quase 30 anos atrás?
Neste momento escrevo este texto em um tablet na mesa de uma praça. Ao fundo, crianças de 10, 12 anos jogam bola. Um dos garotos fala sobre as transações milionárias de jogadores de futebol. A paixão e o hobby continuam os mesmos, mas a cada geração a percepção de mundo é ampliada.
Como será a realidade para eles daqui treze anos?
Não sei deles, mas espero estar completando meus 40 anos de produção de conteúdo na internet – ainda empolgado (e não assustado) com que isso tudo pode proporcionar para nós.
A imagem de destaque é um frame de ‘The Kids’ Guide to the Internet’.
Texto sobre minha trajetória na produção de conteúdo originalmente publicado no LinkedIn, em 2018. Datas atualizadas para 2025.